Promoções

13 de dez. de 2011

A aldeia global e o papel da mídia

Por José Paulo Grasso em 13/12/2011 na edição 672


Um dos pilares da democracia é a imprensa. Ela tem papel de destaque no desenvolvimento de qualquer economia, pendendo a ser livre e, principalmente, diversificada para que se possam ouvir as mais variadas correntes e com isso estabelecer um equilíbrio, em que a seriedade das propostas seja checada e a demagogia desmascarada. Quando este delicado equilíbrio é rompido o resultado é catastrófico. Como o que estamos vivendo.

Os profissionais da mídia estão descobrindo isso na pele porque a realidade hoje que se propaga é virtual, quando todos nós vivemos num mundo real em permanente choque com o anunciado pelos poderes públicos que investem fortunas em “comunicação”, para mascarar que não há um planejamento sério que vá redundar em resultados dignos. Mas como obrigá-los a serem produtivos se eles não são cobrados e ainda mantêm relações “supostamente” promíscuas com grupos que patrocinaram suas eleições?

É difícil trabalhar honestamente com bens públicos quando não se é fiscalizado pela mídia durante anos, a população é mantida apática quanto ao sistema decisório gerando uma impunidade que incentivou os partidos políticos a se aliarem a empresários para, novamente “supostamente”, assaltarem os cofres públicos como estamos observando, pasmos.

Averiguações abafadas

Uma das consequências disto para os profissionais de imprensa é a redução do mercado de trabalho e receitas redundantes desta alienação midiática que estamos sofrendo que se traduz numa imensa indiferença da população quanto ao seu futuro e, fundamentalmente, quanto aos valores éticos. Estamos condenando a população a desconhecer seus direitos e deveres para obter uma prática democrática sadia e seus benefícios. Temos de reagir e a mídia é o melhor canal para alavancar uma reação.

Como não nos manifestamos e a mídia, quando relata, não cobra providências, se tornou normal hoje em dia uma administração municipal deixar um hospital ruir para entregar emergencialmente obras de reforma no valor de R$ 16 milhões a um doador de campanha, sem licitação. Já a administração estadual do Rio dá exemplos sucessivos, sempre com a mesma empresa, e este é o RJ, um feudo repartido entre amigos, em que nós pagamos a conta, sorridentes. Não é possível que situações como estas continuem acontecendo na maior normalidade, pois essa impunidade estimula a ousadia a ser cada vez maior e, por isso, esse crescendo de escândalos, o que sempre acaba muito mal.

Fatos absurdamente desabonadores foram denunciados internacionalmente, somos motivos de pilhérias no exterior e nada se faz, porque a situação chegou num ponto tal, que determinados políticos não têm mais vergonha na cara, e mesmo com evidências fartas, os envolvidos tem a cara de pau de negarem tudo e só se afastarem quando seus próprios pares solicitam, mesmo assim com o intuito de se manter a boquinha do partido, com as tais porteiras fechadas. No Rio nada é investigado, mesmo quando aparecem sólidas denúncias com provas cabais. As averiguações são imediatamente abafadas, normalmente com mais investimentos na rubrica de comunicações como tem acontecido de forma recorrente. Mesmo em escândalos com mortes, como no caso do bondinho de Santa Tereza. O que foi apurado? Quais medidas foram tomadas? E olha que surgiram as mais díspares irregularidades!

Escândalo moral

Como é notório, a prefeitura do Rio de um ano para o outro aumentou seus gastos em comunicação em 9.000% e, uma matéria muito bem fundamentada sobre um escândalo nas ciclovias municipais, foi refeita na maior cara de pau, com testemunhos incríveis, desmentindo os anteriores. Mas, quando a relação é invertida, para fora do Rio, surpreendentemente são feitas reportagens que matam de inveja por não serem produzidas sobre nossos escândalos. Uma pena, não? Desperdiçar tanto talento e matéria-prima...

Dois bravos repórteres foram prospectar a Assembleia Legislativa do Rio e descobriram que é a campeã em gastos do Brasil, que esbanja R$ 1,9 milhão por dia útil. Ela não se ocupa da cidade, e sim, seus ocupantes usam a cidade descaradamente para se manterem no poder. Durante todo o exercício legislativo de 2010, sequer uma lei de relevância passara, entrementes eram concedidas uma homenagem a cada hora. Com o detalhe de que todas as exigências do executivo foram atendidas imediatamente quando sua função por definição é de ser um órgão legislativo da administração do município, uma assembleia que representa os interesses dos cidadãos aqui residentes, e que, portanto, deveria apresentar ou pelo menos tentar chegar a soluções para termos uma perspectiva crível de futuro pela frente, já que a cidade chegou ao fundo do poço exatamente por incúria administrativa.

Claro que esses dois repórteres não puderam apresentar a notícia assim, mas é isso que se lê nas entrelinhas. Voltamos ao tempo da ditadura, que temos que ler com cuidado e espremer para tirarmos a informação dos fatos apresentados! Ou comprar jornais paulistas.

É um escândalo moral sem precedentes e qual a reação a uma constatação dessas, que mostra que se depender dos nossos representantes legais, jamais teremos seriedade no trato da coisa pública e com isso direito a termos um futuro digno? O que fazer diante de uma comprovação dessas? Onde está a continuação dessa investigação jornalística que poderia render até um prêmio?

Por que não se revoltam?

Clique aqui e leia a reportagem por completo! (Pesquisar é Preciso)

Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br
Texto: José Paulo Grasso
Data: 13/12/2011 na edição 672
Republicado em: 13/12/2011
Hora:17:32

0 comentários:

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More